quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Como o cristão enxerga o mundo (parte II)

Uma cosmovisão bíblica vê o mundo como Criação. Nosso mundo foi feito e é sustentado continuamente por Deus. As “leis naturais” descobertas pela Física, Química e Biologia nada mais são que o ordenamento de Deus para a manutenção de sua criação - aliás, os essa era a convicção dos fundadores do conhecimento científico moderno, como Nicholas Copernicus (1473-1543), Galileo Galilei (1564-1642), Johannes Kepler (1571-1630), Isaac Newton (1642-1727), Louis Pasteur (1822-1895) e outros. Uma cosmovisão fundamentada na Criação verá o mundo como fundamentalmente bom.

É importante notar que, após exercer sua onipotência fazendo e moldando o universo, Deus incumbiu o ser humano de exercer um domínio civilizador sobre a natureza, dando continuidade ao seu trabalho criador inicial
e desenvolvendo o potencial que ele embutiu na natureza.[1] (Algumas pessoas estranham a ideia de que a Criação original precisasse ser desenvolvida – como se isso significasse que Deus fez algo imperfeito. Quem sabe umas ilustrações ajudem: Deus criou as roseiras; mas capacitou o florista a fazer arranjos ainda mais bonitos. Deus criou as frutas e as propriedades físicas da água, mas cabe ao sorveteiro inventar o refrescante e saboroso picolé.)

Mas uma cosmovisão bíblica também vê o mundo em Queda. O pecado de Adão e Eva não foi um ato isolado de desobediência, mas um evento de efeitos catastróficos para a criação como um todo.[2] Percebemos o alcance dessa decadência nos desastres naturais, nas inúmeras enfermidades e nas disfunções das relações humanas (desde a corrupção política até a sexual).

Mas é essencial perceber que a Queda não alterou a essência da Criação. Por uma razão muito simples: o próprio Criador tem preservado, em alguma medida, a vida, a natureza e a possibilidade de desenvolvimento cultural e social.[3] Por isso, o cristão enxerga a história, a cultura e o progresso humanos como parte do bom plano de Deus para o cosmo e a humanidade.[4] Porém, observará criticamente os rumos que as atividades humanas tomam, sabendo que tendem a ser corrompidas pela rebeldia humana.

Por tudo isso, em qualquer atividade humana (não apenas sendo missionário, evangelizando ou participando de alguma programação na igreja), o cristão se envolverá procurando perceber e restaurar a ordenação criacional de cada atividade, buscando restaurá-la de seu estado caído.

Por fim, uma cosmovisão bíblica vê o mundo sem perder de vista a Redenção que o Criador providenciou em Jesus Cristo.[5] Mas tratarei desse último aspecto em outra oportunidade.




[1] Leia no livro do Gênesis, cap. 2.3,5,15.
[2] Veja o que o Apóstolo Paulo diz em sua carta aos Romanos, cap. 8.22.
[3] Veja no livro do Gênesis, cap. 4.20-22 e 26, como a humanidade condenada à morte continua a viver, procriar e trabalhar. Leia em Mateus, cap. 5.45 Jesus garantindo que a manutenção da vida e o progresso são concessões divinas.
[4] É nessa perspectiva que o Apóstolo Paulo defende o casamento e o Estado como instituições divinas na 1ª carta a Timóteo, cap. 4.3-4 e na carta aos Romanos, cap. 13.1-2).
[5] As visões do futuro que o Apóstolo João registrou em Apocalipse, cap. 21.23-26, mostram que, ao contrário do que muitos imaginam, a restauração da Criação não significará um retorno às condições primitivas do Éden, mas um avanço em direção à Cidade perfeita, onde as nações apresentarão o melhor de sua produção ao seu Criador e Redentor.

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