segunda-feira, 27 de junho de 2016

Bem vinda, Dona Morte!

Os cinemas de todo o país estão vendendo mais lenços que pipocas com o grande sucesso de “Como eu era antes de você” (Me before you, 2016). O filme conta a história de Will Trainor (Sam Clafin), um jovem muito rico e aventureiro que fica tetraplégico. O rapaz mergulha em amargura e cinismo, até que a família contrata como cuidadora a doce e meio simplória Louisa Clark (Emilia Clarke).[1] Como sugere o título, essas duas vidas tão opostas serão profundamente tocadas pela relação que constroem.
*SPOILERS ABAIXO!*

Só de ler a sinopse já fica totalmente previsível que ambos vão se apaixonar um pelo outro.[2]  Porém, o trailer antecipa que o filme apenas finge ser uma comédia romântica, mas é na verdade um melodrama. Mesmo reconhecendo que a presença de Lou trouxe alegria e significado à vida, Will se mantém decidido a terminar sua vida por meio de suicídio assistido. Na verdade, parece que conhece-la serviu apenas para confirmar que jamais poderia se conformar com a existência incompleta e dependente que o espera.

O título original do filme (“Me before you”) nos oferece um trocadilho, perdido na tradução. É assim que Will vê o mundo, ele mesmo antes de todo o resto. Sua decisão de cometer suicídio é completamente egoísta e ensimesmada. Mergulhado em autocomiseração pelo potencial de realizações pessoais que perdeu, não leva em consideração nem as pessoas que o amam e cuidam, inclusive Lou, cujo amor ele aparentemente corresponde. Seu discurso de que não deseja ser um fardo para aqueles que o amam não é motivado pelo amor, mas pelo orgulho que o impede de ser dependente do amor dos outros.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Todo homem é um estuprador em potencial

Apesar do Estado do Rio registrar 1690 estupros só nos quatro primeiros meses desse ano, um em particular causou comoção geral. Primeiramente porque imagens da suposta vítima nua viralizaram na internet antes mesmo que ela apresentasse queixa na delegacia; depois, porque ela ainda é adolescente; e, especialmente, devido à informação de que trinta ou mais homens teriam participado do ato.

Agora se sabe que esse último dado é questionável. A jovem afirmou que contou 33 homens presentes na casa onde acordou nua, mas não pode precisar quantos participaram do ato em si, já que estava desacordada. No vídeo viralizado, uma voz masculina afirma jocosamente “mais de 30 engravidou”, mas está parodiando a letra de um funk, e não confessando um crime. Ainda que a divulgação não consentida de imagens íntimas seja claramente contra a lei, o restante do caso está bastante nebuloso, havendo o risco de o inquérito seguir mais baseado na pressão da opinião popular conduzida pela mídia que pela apropriada investigação policial.

Manifestação organizada em Florianópolis pelo movimento "Marcha das Vadias" depois da notícia do estupro coletivo