Apesar do Estado do Rio registrar 1690 estupros só nos
quatro primeiros meses desse ano, um em particular causou comoção geral.
Primeiramente porque imagens da suposta vítima nua viralizaram na internet antes mesmo que ela apresentasse queixa na
delegacia; depois, porque ela ainda é adolescente; e, especialmente, devido à
informação de que trinta ou mais homens teriam participado do ato.
Agora se sabe que esse último dado é questionável. A jovem afirmou
que contou 33 homens presentes na casa onde acordou nua, mas não pode precisar
quantos participaram do ato em si, já que estava desacordada. No vídeo
viralizado, uma voz masculina afirma jocosamente “mais de 30 engravidou”, mas
está parodiando a letra de um funk, e
não confessando um crime. Ainda que a divulgação não consentida de imagens
íntimas seja claramente contra a lei, o restante do caso está bastante nebuloso,
havendo o risco de o inquérito seguir mais baseado na pressão da opinião
popular conduzida pela mídia que pela apropriada investigação policial.
Manifestação organizada em Florianópolis pelo movimento "Marcha das Vadias" depois da notícia do estupro coletivo |
Como em outros casos de extrema violência, a indignação se mistura à perplexidade, e é comum os envolvidos serem descritos como “monstros” ou “doentes”. Mas tem crescido o volume das vozes que discordam desse tipo de tratamento aos criminosos, entendendo que acaba diminuindo a responsabilidade do indivíduo e da sociedade pelo ato. A roqueira Pitty, por exemplo, afirmou que os estupradores eram apenas homens que “fizeram porque aprenderam que podiam fazer” dentro do “contexto sociocultural patriarcal” e de “machismo”. Semelhantemente, Silvia Chakian, a promotora de justiça que coordena o Grupo Especial de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, defendeu que a causa de tais violências é “absolutamente cultural”.
Essas duas declarações são exemplo de como o movimento
feminista se apropriou imediatamente do caso como ferramenta discursiva, útil
para comprovar sua tese de que vivemos numa cultura de estupro e, portanto, todo homem é um estuprador em potencial.
Muitos homens ficam ofendidos com essa frase, levando várias feministas a interpretá-la de forma mais branda. Elas explicam que o objetivo é
lembrar às mulheres que é impossível distinguir um estuprador de um homem decente
e respeitador; estupradores não usam crachá, portanto a mulher tem de estar
alerta contra qualquer homem. Outras acrescentam que a frase serve também para
sensibilizar os homens acerca de como as mulheres se sentem vulneráveis na presença
de qualquer homem. Muito razoável.
Contudo, apesar de bem intencionadas, estas explicações não
contam toda a verdade. A frase não tem como alvo o indivíduo, seja a
mulher-vítima ou o homem-agressor. Pelo contrário, o homem é visto apenas como representante
do gênero masculino, e este como fonte do patriarcalismo e do machismo que
promovem a opressão feminina. No combativo discurso feminista, todos os homens
são cúmplices de todos os estupros!
Postagem de cunho científico de uma jornalista feminista |
Pouco importa se o grupo em questão era composto
exclusivamente de bandidos empunhando fuzis (conforme o depoimento inicial da
adolescente), e não de cidadãos comuns. Assim como não importará se a polícia porventura
descobrir que tudo não passou de sexo grupal consentido (como ocorreu em 2014
entre uma jovem universitária e seus cinco colegas). Aliás, não fará diferença nem
se o legista concluir que a jovem ainda é virgem. Todo homem ainda será um
estuprador em potencial.
Discordo profundamente da forma como o Feminismo enxerga a
relação entre homens e mulheres e, particularmente, a família tradicional, mas confesso
que não me sinto ofendido com a tal frase. Já tem mais de três mil anos que a
Bíblia afirma que todo homem é um estuprador em potencial.[1]
Todas as relações humanas têm seu fundamento na relação entre
o primeiro homem e a primeira mulher, e agora reproduzem a corrupção que contaminou
aquela relação primeva de cooperação amorosa com uma inexorável tendência à dominação
rancorosa.[2]
Por isso não é surpresa que essa corrupção continue encontrando manifestação plena
em um ato de violência que perverta exatamente o ato sexual, planejado pelo
Criador para ser o ápice da comunhão entre dois seres humanos. Afinal, cada
homem carrega dentro de si toda a maldade necessária para atacar covardemente
uma mulher, a fim de obter gratificação sexual ou afirmar sua masculinidade.[3]
E, apesar de que a maioria deles que jamais agiria de acordo com essa corrupção,
ainda assim ela está lá – num olhar ou num breve pensamento impuro.[4]
Afirmar que todo homem
é um estuprador em potencial numa perspectiva feminista difunde a culpa de
cada estupro por toda a história das sociedades patriarcais, fornecendo o álibi
perfeito para o estuprador de hoje, incapaz de escapar da cultura machista milenar
que herdou. O estuprador é a outra vítima da sociedade, precisando mais de
tratamento que de punição.
Já a perspectiva bíblica explica porque somos uma sociedade
violenta e injusta, particularmente com as mulheres. Constituída de inúmeras
pessoas injustas e más, a sociedade invariavelmente refletirá as tendências, convicções
e valores dos indivíduos, reforçando-os e reproduzindo-os no transcorrer das
gerações.[5]
Além disso, afirma a responsabilidade individual do criminoso, pois cada homem
é responsável por dominar suas tendências malignas inatas.[6]
Diante do quadro que a Bíblia pinta do homem, seria de se
esperar que o estupro fosse regra, e não exceção. Então por que para cada
estuprador existem mil homens que respeitam as mulheres? Por que a imensa
maioria dos homens arriscaria a própria segurança para defender uma mulher de
um estuprador? Por que até os criminosos consideram o estupro um crime odioso?[7]
Tratarei disso noutro post.
[1] O apóstolo
Paulo, citando o rei-poeta Davi, afirmou que não há nenhum homem que faça o
bem, pelo contrário, todos são peritos em praticar violência (conf. Romanos
3.10-17 e Salmo 14.1-3). É óbvio que os textos se referem a humanidade como um todo, mas isso não invalida uma aplicação específica ao gênero masculino. Até que se prove o contrário, homens são humanos!
[2] As
maldições divinas sobre Adão e Eva se propagam por toda a raça humana (leia Gênesis
3.16; depois acompanhe o imediato recrudescimento da violência em 4.8; 4.23;
6.11-13).
[3] Ao
apontar o “coração” como sede do pecado, a Bíblia indica que há uma corrupção
da natureza humana, não apenas de seu comportamento (veja Jeremias 17.9; Mateus
15.18-19).
[4]
Jesus declarou que olhar outra mulher com desejo já é adultério, não por
negligenciar a óbvia diferença entre desejar e praticar, mas para destacar que
o ato externo é a eventual explicitação da corrupção interna (cf. Mateus 5.28).
O princípio parece se aplicar perfeitamente ao estupro.
[5] Depois
de discorrer sobre o modo como os povos se corrompem espiritual e moralmente, o
apóstolo Paulo conclui que a aprovação social é o instrumento de sociabilização
do pecado (veja sua carta aos Romanos 1.20-32, note a força do último versículo).
[6]
Cada ser humano é réu no tribunal divino (Gênesis 4.7; Ezequiel 18.20; Romanos
2.5-11; Apocalipse 22.12).
[7]
Pesquisa feita pela USP em 2010 (baixe aqui) encontrou que o estupro é o crime que os entrevistados mais consideraram merecedor de pena de morte (39%) ou prisão perpétua (34%). É de conhecimento público que estupradores são odiados nas penitenciárias - e, muitas vezes, estuprados e assassinados ali.
"Todo homem é um futuro estuprador, tá no DNA desses animais" - aberração !!!
ResponderExcluir.
A bacana pertence ao mesmo grupo de animais, o Homo Sapiens.
.
Pois é, Welington, ninguém avisou ela que todos partilhamos o mesmo DNA...
ExcluirPor outro lado, se ela acredita mesmo que o estupro é uma doença genética (como síndrome de Down), deveria estar defendendo um tratamento mais humano e compassivo para estupradores, e não xingando né?
Haja incoerência!
Obrigado pelo comentário!