Durante muito tempo o Brasil acreditou que estava natural e
providencialmente deitado em berço esplêndido. Talvez por isso mesmo, apesar da
idade avançada e tamanho avantajado, somente agora esse bebezão está acordando
e descobrindo que suas babás não vinham fazendo um bom trabalho – e, mais
importante, que podem ser demitidas.
A babá Dilma, percebendo que já está de aviso prévio e sabendo que o salário-desemprego é uma merreca. |
O discurso governista é que o processo de impeachment de Dilma
Rousseff é um ataque à democracia brasileira. Porém, ao contrário, me parece um
claro sinal de amadurecimento da nossa democracia, com a consagração do princípio
democrático da separação entre os Poderes que descentraliza o poder do Estado e
dispõe mecanismos para que cada um deles possa fiscalizar e conter excessos dos
demais, num sistema de freios e contrapesos. Alguns exemplos disso:
- Tudo isso tem ocorrido pela atuação de órgãos do Judiciário (como Justiça Eleitoral e STF), do Legislativo (Tribunais de Contas) e do Executivo (Ministérios Públicos).[1]
- Essa atuação tem sido amparada por leis que pretendem moralizar a vida pública brasileira, em especial as recentes Leis da Responsabilidade Fiscal (2000), da Ficha Limpa (2010) e Anticorrupção (2013), propostas pelo Executivo, aprovadas pelo Legislativo e aplicadas pelo Judiciário.[2]
- Um importante aspecto das acusações contra a Presidente é exatamente que ela teria invadido a competência do Congresso.
- A lei determina que o julgamento do impeachment seja conduzido pelas duas
casas do Legislativo de acordo com as regras referendadas pelo Judiciário, sendo que o Senado funciona sob a presidência do Presidente
do STF.
Próximo à Praça dos Três Poderes, em Brasília, uma multidão manifestava o poder original numa democracia: o povo |
Como escreveu o reformador protestante João Calvino: “em virtude dos vícios ou defeitos dos homens, é mais seguro e mais tolerável que diversos exerçam o governo, de sorte que assim se assistam, ensinem e exortem mutuamente; e, se alguém se exalta mais do que lhe é justo, muitos sejam os censores e mestres para coibir-se seu desregramento”.[5]
Que Dilma caia mesmo. E que os demais políticos aprendam com
sua queda a exercer seu ofício com mais temor, legalidade e transparência. E
que os petistas aprendam com sua queda que não são salvadores da pátria nem detém o
monopólio da virtude. E que os brasileiros aprendam com sua queda que os
governantes precisam ser fiscalizados para que não caiam na tentação de
governar para si mesmos e para seus grupos de interesse político ou econômico.
E que os cristãos aprendam com sua queda que bendito é aquele que põe no Senhor
a sua confiança e esperança, não nos políticos.[6]
Particularmente, a maior vantagem que vejo na queda da atual
presidente é a possibilidade de mudança de rumos na economia do país, dominada
pelo pensamento esquerdista do PT e congêneres. Tratarei disso em outro post,
mas por hora, direi, esperançoso: JÁ VÃO TARDE!
[1] Por sua importância na democracia, a Imprensa já foi chamada de “quarto poder”. De fato, a liberdade de imprensa também tem sido fundamental para publicar desmandos e compelir investigações,
mas não tem como fonte de poder o povo e lhe faltam os dispositivos de controle externo mútuo presentes nos três
poderes políticos.
[2] Na verdade, a “Ficha Limpa” foi de iniciativa popular, mas isso não prescinde de ter de ser sancionada pelo Executivo.
[4]
Exemplos bíblicos dessa distorção incluem Caim (Gênesis 4.17), Roboão (1 Reis
12.13-19) e Nabucodonosor (Daniel 4.29-32).
[5] Institutas,
livro 4, cap. XX.8. A Cultura Cristã relançou a edição clássica da obra magna
de Calvino, traduzida do latim.
[6] Conforme
a constante exortação bíblica, por exemplo, nos Salmos 40.4; 118.9 e 146.3-5; também
Jeremias 17.5-7.
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