Quando alguém consegue definir os termos utilizados em um
debate, provavelmente sairá como vencedor. Essa estratégia é tão típica da
esquerda cultural que alguns têm chamado de novilíngua.[1]
Por exemplo, sua agenda política nunca é “socialista”, mas “progressista” – subentendendo-se que seus opositores são “retrógrados” e estão,
sabe-se lá por quais intenções escusas, lutando contra a marcha da História e
do progresso. Viu? Vitória por nocaute antes de iniciar a luta!
Isso ocorre também na questão do aborto. Em debates,
manifestações e principalmente na propaganda feminista pró-aborto, o aborto é apresentado
como uma questão essencialmente de “saúde pública” e de “liberdade individual”; uma capa da revista Istoé sobre o Projeto de Lei 5069, que trata do aborto, menciona três vezes os "direitos civis" femininos em jogo, mas "aborto", apenas uma vez ("feto", então, nem pensar!). Logo, o aborto nada tem a ver com moralidade, especialmente a religiosa, certo? E quem se
atreveria a ser contra a saúde, a liberdade e os direitos da mulher, não é mesmo?
Bem, eu é que não! Recuso-me a ser um retrógrado carrasco de mulheres! Ainda assim... Ainda assim, quero “esclarecer os termos do debate” (que, em novilíngua, quer dizer: “atacar algumas asneiras que se dizem por aí”).
Vencer milhões de concorrentes foi fácil: duro vai ser escapar das feminazes abortistas |
Do ponto de vista das Ciências Médicas e da Biologia, a
gestação é um processo contínuo
desde a fecundação do óvulo até o
nascimento – na verdade, até a morte por velhice. Apesar da nomenclatura
diferente para cada fase da gestação (zigoto, embrião, feto), não há nenhum marcador concreto que indique um momento específico no qual começa a haver um ser humano. Há apenas a vida se desenvolvendo. Ou a morte se
impondo.[2]
Não “interrupção”, mas “morte” mesmo. Afinal, o feto é um ser diferente da mãe
desde o momento da formação do zigoto, a nova célula que carrega informação
genética exclusiva (menos de 24 horas após o encontro entre espermatozoide e
óvulo).
Portanto, antes de tratar o feto como uma espécie de verruga
ou terceiro mamilo a ser retirado pelo bem da autoestima feminina, desafio a
feminista que grita (como no vídeo com atores globais) “Meu corpo, minhas regras!” a realizar um teste de DNA no
feto para ver se realmente ele é parte dela. E, tendo concluído cientificamente
que o bebê (ops! trocar imediatamente o termo afetivo-opressor por um mais neutro),
ou melhor, que o embrião não é um
membro opcional de seu corpo, que deixe de invocar soberania sobre uma vida
alheia a si mesma.
Qualquer mulher tem direito sobre seu próprio corpo. Quando
encontro no metrô feministas exercendo seu direito de não depilar as axilas
como forma simbólica de rejeitar a imposição do padrão de beleza feminina
artificial em voga, não posso impor a elas um suposto direito meu de não ter de
viajar com aquela visão grotesca. Mas, obviamente, o aborto está em outra
categoria. Nenhum direito individual pode se sobrepor ao direito à vida do
outro, e neste caso trata-se da vida na sua maior fragilidade e dependência.
É claro que a morte não é uma recém-chegada à família. A
Queda da humanidade deveria resultar na morte imediata de Adão e Eva e,
consequentemente, na extinção da raça humana; só por sua graça, o Criador
preservou a capacidade de gerar filhos de Eva e suas descendentes – a vida
poderia prosseguir![3]
Contudo, a morte estava operando paralelamente, e na primeira oportunidade se
expressou na forma mais horrenda: assassinato dentro da família.[4] A cultura da morte somente tem crescido desde então, e tornar
o aborto algo natural, virtuoso e digno parece ser o degrau mais baixo desse
abismo. Não estou exagerando. A norte-americana Emily Letts, 25 anos, filmou o
próprio aborto com um sorriso nos lábios, e postou nas redes sociais,
conseguindo mais de dois milhões de acessos ao seu vídeo. Entrevistada como
heroína pela importante revista feminina Cosmopolitan, declarou: “Eu não me sinto como uma má pessoa, não
me sinto triste. Eu sei que o que estava fazendo era o certo, pra mim e para
mais ninguém”.
Os profetas hebreus denunciavam a injustiça contra os
órfãos como evidência de que sua sociedade havia se corrompido e se apartado
do caminho da verdade que Deus havia traçado.[5]
Imagine como ficariam chocados em nossos dias, em que as mães (ooops! outro
termo afetivo-opressor), isto é, mulheres gestantes reclamam o direito de matar
o próprio filho (não, não! será que não há outro jeito de dizer isso!?) que
carrega no ventre.
Por isso é impossível, é errado, assistir calado ao crescimento dessa cultura de morte. No mínimo, devemos arrancar a máscara de liberdade e civilidade atrás
da qual se esconde covardemente. Retomarei esse tema noutro post.
[2]
Cerca de 25% das gestações terminam em abortos espontâneos; mas utilizar esse
dado como argumento em favor do aborto é uma aberração tão grande quanto deixar
um filho recém-nascido morrer com o argumento de que cerca de 100 crianças com
menos de um ano morrem por dia no Brasil.
[3]
Compare Gênesis 2.17 e 3.16; também a referência de Paulo em 1 Timóteo 2.15.
[4]
Obviamente, refiro-me a Abel, morto por seu irmão Caim, cf. Gênesis 4.8-10.
[5] Por
exemplo, Isaías 1.17; Jeremias 7.5-7 e 22.3-5 e Zacarias 7.9-10. A Lei de
Moisés (cf. Deuteronômio 24.17-21) elegia os órfãos e as viúvas como alvo de
especial proteção e o salmista (veja o Salmo 10.14-18) descreve Deus como o “defensor
do órfão”.
Reverendo, Deus abençoe a sua vida, muito bom ver a vossa disposição para debater e enfrentar assuntos tão relevantes para a nossa sociedade tão "perdida" em seus posicionamentos em linhas gerais. Vou divulgar aos adolescentes e jovens de minha igreja. Obrigado.
ResponderExcluirQuanto ao texto muito preciso.
Presb. Luiz Augusto Gonzaga
IP Emaús
Obrigado pela visita e incentivo, Luiz.
ExcluirSempre digo que não dá pra ser cristão nos dias de hoje com o cérebro desligado. Espero ser útil a todos.