sexta-feira, 22 de maio de 2015

Dos quadrinhos para as telonas

Para fãs de comics (como eu), os últimos tempos têm sido fantásticos! Quem diria que meus gibis favoritos virariam blockbusters mundiais nos cinemas e na TV? Marvel e DC, as gigantes do ramo, conseguiram transportar para o live action da grande tela a fantasia dos quadrinhos. (graças a Deus pela Computação Gráfica!)[1]

Os filmes de super-heróis estão muito bem representados entre as 21 produções do cinema que ultrapassaram um bilhão de dólares nas bilheterias ao redor do mundo. Por que será que os super-heróis nos atraem tanto?
Alguns rapidamente responsabilizariam a superficialidade desses filmes (focados em ação, enredos previsíveis, personagens rasos) e, concomitantemente, a superficialidade intelectual de seus fãs (que seriam todos adolescentes, de 12 a 50 anos). Provavelmente estariam corretos, mas eu gostaria de apontar razões mais interessantes, a partir de um entendimento cristão básico do ser humano: Fomos criados para a santidade, mas caímos em pecado.[2]

Partindo dessa premissa, creio que histórias de super-heróis cativam nosso coração em um nível mais profundo:
  • Servem como lembranças de um tempo (uma época, um jardim) de que sentimos saudade sem jamais termos visto, no qual de fato éramos bons, justos e verdadeiros. Eles cutucam uma “saudade edêmica”, adormecida a maior parte do tempo.[3]
  • Ressoam em nossa consciência que deveríamos ser muito melhores do que somos, que deveríamos viver mais em função do próximo do que vivemos.[4] No fundo, sabemos que deveríamos ser bem mais heróis.
  • Propõem um mundo onde há mal e bem, certo e errado – em lados distintos e opostos.[5] Na vida real, todos somos uma mescla de boas intenções e más motivações, de boas ações e maus pensamentos, de generosidade e egoísmo.[6]
  • Confirmam nossa intuição de que somos incapazes de lidar com o mal que há no mundo, de que precisamos de alguém acima de nós mesmos. Alguém que não participe daquele mal que percebemos em nós mesmos; mas, ao invés de fugir desse mundo caído, se embrenhe nele em nosso favor. Um redentor.[7]
Retomo o tema noutro post.


[1] Não, isso não é blasfêmia nem heresia, é apenas o reconhecimento da graça comum, que permite o progresso e a civilização a despeito da presença do pecado na terra. Veja como os descendentes de Caim prosperam em Gênesis 4.17-22 (cf. também a declaração de Jesus sobre a origem da prosperidade dos ímpios em Mateus 5.45).
[2] Os três primeiros capítulos do livro de Gênesis apresentam de maneira memorável essa dualidade humana: criados à imagem de Deus, corrompidos pelo desejo de serem iguais a Deus (vd. especialmente Gênesis 1.26-27;3.4-6; cf. também a conclusão do rei Salomão, em Eclesiastes 7.29).
[3] O apóstolo Paulo afirma que essa “saudade” vai ter fim (veja Romanos 8.22-23 e Apocalipse 22.1-3).
[4] Leia Romanos 2.14-15 e Tiago 4.17.
[5] Para dizer a verdade, a grande sacada de Stan Lee, o criador-mor dos personagens clássicos da Marvel na década de 60, foi humanizar drasticamente heróis e vilões: o Homem Aranha é um nerd que sofre bullying no colégio quando não está salvando vidas; o Coisa se amargura pela sua aparência pétrea, que o torna capaz de erguer mais de 50 toneladas, mas impede relacionamentos afetivos; o Magneto só quer destruir a humanidade para proteger sua raça mutante da discriminação. Com o tempo, essa tendência apenas se acentuou.
[6] Veja a angustiante confissão do apóstolo Paulo em Romanos 7.18; o apóstolo Pedro fala de uma guerra dentro da alma humana, 1Pedro 1.11.
[7] No século 7° a.C., um judeu chamado Isaías descreveu um personagem assim (Isaías 53.4-5,9-11).

2 comentários:

  1. Você não acha as tentativas do marxismo cultural/politicamente correto/ativismo social/esquerdistas de tomarem conta co entretenimento nerd (quadrinhos, cinema e games) um perigo cada vez mais presente na Marvel / DC?

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    1. Olá, Saga Oliveira.
      Como você notou, não entrei nesta questão, mas certamente o esquerdismo cultural de Hollywood se faz presente por toda a indústria de entretenimento norte-americana. Apesar da vigilância conservadora que há por lá, já há super-heróis gays e muçulmanos. Que eles sejam representados na mitologia dos comics, é razoável; mas, na verdade, sabemos que são usados como instrumentos discursivos de subversão cultural e moral.
      Pra quem curte HQ, resta consumir com o filtro mental "mode on".
      Obrigado pela visita e comentário.

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