quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A sedução do mal

Uma das coisas mais impressionantes no terrorismo islâmico atual é a forma como utiliza a sua crueldade como ferramenta de marketing. Para o Estado Islâmico, Paris foi apenas uma vitrine, atraindo os holofotes da mídia mundial e a atenção dos governos. Além disso, em todo o mundo homens e mulheres (especialmente jovens) têm sido atraídos por estas facções extremistas do islamismo, que têm se mostrado muito hábeis no uso das redes sociais e vídeos para recrutar adeptos. Aliás, calcula-se que cerca de 1200 dos próprios franceses já viajaram à Síria e Iraque para se juntar ao jihad.[1]
Carrasco extremista posa para uma selfie antes de decapitar prisioneiros:
marketing na web é a alma do negócio
O que leva jovens islâmicos a se envolverem com radicais? Como islâmicos extremistas seduzem jovens ocidentais?[2]


As pesquisas indicam que recrutadores extremistas têm encontrado terreno fértil nos subúrbios social e economicamente alienados das grandes cidades ocidentais. Jovens pobres, de famílias desestruturadas e que não completaram seus estudos muitas vezes são apresentados ao Islamismo por meio de uma de suas obras de assistência social, ou por uma facção islâmica atuante no presídio em que vão parar depois de pequenos crimes. Nestes casos, aderir aos extremistas significa ganhar uma nova identidade, família e estilo de vida, à semelhança da fraternidade das gangues de rua, mas em torno de uma causa maior.

Por outro lado, tem despontado um terrorismo “descolado”, de jovens de classe média ou alta, que abandonam seus lares confortáveis e faculdades para viverem como jihadistas em meio à poeira e aos conflitos do Oriente Médio. Ou para, depois de treinados, retornarem aos seus países como líderes de células terroristas que se escondem nas sombras da liberdade de expressão ocidental, propagandeado valores extremistas e, quem sabe, planejando um atentado.[3]

Na propaganda do EI, as mulheres também
viverão grandes aventuras em nome da fé...
Talvez ainda mais difícil de compreender seja o crescente número de mulheres que se juntam aos extremistas muçulmanos – especialmente se considerarmos o tratamento que elas recebem na sharia,[4] como o uso obrigatório da burca, a submissão completa ao marido, a ausência de direitos civis, restrições à carreira profissional, a proibição de falar com um homem ou mesmo sair sozinha de casa, entre outros. Sem falar no fato de que o Estado Islâmico utiliza como estratégia de recrutamento masculino a promessa de poder tomar prisioneiras a partir de 9 anos como escravas sexuais. Essas mulheres parecem ser imunes ao feminismo
... Mas a realidade é que serão cúmplices
da escravidão sexual de mulheres
yázidis ou cristãs prisioneiras

Alguns analistas têm apontado que estas mulheres são atraídas pelo romantismo – inicialmente pela promessa de uma história de amor com um valoroso guerreiro que a aguarda, e posteriormente pelo desejo de uma história grandiosa de viver e morrer por uma causa que pretende mudar completamente o mundo. Em muitos casos há desapontamento e arrependimento, mas não há deserção no islamismo radical (na verdade, nem no tradicional).

Entretanto, estas explicações sociológicas, econômicas e psicológicas falham por não levar a sério a natureza religiosa do jihad e, consequentemente, de seu apelo, seja a ocidentais convertidos ao Islã ou muçulmanos criados em contextos ocidentais. As pessoas são muito mais que vítimas das influências socioeconômicas ao seu redor.

Os seres humanos foram criados conscientes da justiça, ainda que não tenham autonomia para defini-la por si mesmos.[5] Acontece que a sociedade materialista e relativista que a civilização ocidental tem gestado nas últimas décadas simplesmente renega e ignora essa realidade transcendente da existência e da ética. Enquanto ficamos horrorizados com o discurso extremista que afirma saber a diferença entre o bem e mal, que alega poder traçar a linha divisória entre fiéis e infiéis, que declara ter a voz de Deus (exclusivamente) do seu lado – enfim, com o absolutismo islâmico – jovens do mundo todo ficam encantados com uma visão de mundo que promete a segurança e sentido que não encontram no secularismo que os cerca.

O pior é que, como sociedade pós-cristã, não temos nada para oferecer a estes jovens vazios que os faça sequer hesitarem antes de seguir um assassino insano que proclame certezas “preto no branco” neste mundo pós-moderno onde a única certeza é a dúvida e a única convicção é o pensamento politicamente correto – especialmente porque aqueles que sustentam a autoridade bíblica são vedados da participação social, enquanto que largas porções do Cristianismo apenas reproduzem o espírito da época.

Infelizmente, para uma sociedade surda ao evangelho, resta apenas ficar espantada e confusa diante da perda de seus jovens para seus inimigos declarados. E, claro, combater fogo com fogo, provavelmente cometendo atrocidades e injustiças muito parecidas com as que sofre agora, e fomentado ainda mais extremismo violento.

Retomo o tema noutro post.




[1] Jihad é o dever religioso dos muçulmanos de defender o Islã, seja pela doutrinação e exemplo de vida, ou pela espada, isto é, guerra e terrorismo.
[2] Obviamente, a primeira pergunta a ser feita é: “O que leva uma pessoa a se envolver na morte de outras pessoas?” ou, pelo menos, “O que leva um religioso a usar sua crença para justificar o assassinato?”. Mas este post pretende focar num aspecto particular do jihadismo.
[3] Já foram detectadas tentativas pelo Estado Islâmico de cooptar de jovens brasileiros para sua causa.
[4] Sharia é o conjunto de regras religiosas constantes do Alcorão (revelação de Alá recebida por Maomé) e das Sunas (relatos posteriores da vida e ensinos de Maomé), particularmente quando tomados como lei civil ou seu fundamento, como requerem os movimentos radicais islâmicos.
[5] Essa consciência moral inata está claramente presente desde a criação do primeiro ser humano, que recebe um mandamento, se envergonha por tê-lo quebrado e é responsabilizado por suas escolhas (Gênesis 2.16-17 e 3.9-10 e 17-19). O apóstolo Paulo fala de uma norma moral “gravada no coração” de todos, que se expressa na consciência individual; por outro lado, ele também reconhece o papel da influência social na conduta moral dos indivíduos e a capacidade humana de insensibilizar a própria consciência. Compare Romanos 1.32 e 2.14-15; também 1Timóteo 4.2. 

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