Uma das coisas mais impressionantes no terrorismo islâmico atual
é a forma como utiliza a sua crueldade como ferramenta de marketing. Para o
Estado Islâmico, Paris foi apenas uma vitrine, atraindo os holofotes da mídia
mundial e a atenção dos governos. Além disso, em todo o mundo homens e mulheres
(especialmente jovens) têm sido atraídos por estas facções extremistas do
islamismo, que têm se mostrado muito hábeis no uso das redes sociais e vídeos
para recrutar adeptos. Aliás, calcula-se que cerca de 1200 dos próprios franceses
já viajaram à Síria e Iraque para se juntar ao jihad.[1]
Carrasco extremista posa para uma selfie antes de decapitar prisioneiros: marketing na web é a alma do negócio |
O que leva jovens islâmicos a se envolverem com radicais? Como
islâmicos extremistas seduzem jovens ocidentais?[2]
As pesquisas indicam que recrutadores extremistas têm
encontrado terreno fértil nos subúrbios social e economicamente alienados das
grandes cidades ocidentais. Jovens pobres, de famílias desestruturadas e que não
completaram seus estudos muitas vezes são apresentados ao Islamismo por meio de
uma de suas obras de assistência social, ou por uma facção islâmica atuante no
presídio em que vão parar depois de pequenos crimes. Nestes casos, aderir aos extremistas
significa ganhar uma nova identidade, família e estilo de vida, à semelhança da
fraternidade das gangues de rua, mas em torno de uma causa maior.
Por outro lado, tem despontado um terrorismo “descolado”, de
jovens de classe média ou alta, que abandonam seus lares confortáveis e
faculdades para viverem como jihadistas
em meio à poeira e aos conflitos do Oriente Médio. Ou para, depois de
treinados, retornarem aos seus países como líderes de células terroristas que
se escondem nas sombras da liberdade de expressão ocidental, propagandeado valores
extremistas e, quem sabe, planejando um atentado.[3]
Na propaganda do EI, as mulheres também viverão grandes aventuras em nome da fé... |
Talvez ainda mais difícil de compreender seja o crescente
número de mulheres que se juntam aos extremistas muçulmanos – especialmente se
considerarmos o tratamento que elas recebem na sharia,[4]
como o uso obrigatório da burca, a submissão completa ao marido, a ausência de
direitos civis, restrições à carreira profissional, a proibição de falar com um
homem ou mesmo sair sozinha de casa, entre outros. Sem falar no fato de que o Estado
Islâmico utiliza como estratégia de recrutamento masculino a promessa de poder
tomar prisioneiras a partir de 9 anos como escravas sexuais. Essas mulheres parecem ser imunes ao feminismo
... Mas a realidade é que serão cúmplices da escravidão sexual de mulheres yázidis ou cristãs prisioneiras |
Alguns analistas têm apontado que estas mulheres são
atraídas pelo romantismo – inicialmente pela promessa de uma história de amor
com um valoroso guerreiro que a aguarda, e posteriormente pelo desejo de uma história grandiosa de viver e morrer por uma causa que pretende mudar completamente o
mundo. Em muitos casos há desapontamento e arrependimento, mas não há deserção no islamismo radical (na verdade, nem no tradicional).
Entretanto, estas explicações sociológicas, econômicas e
psicológicas falham por não levar a sério a natureza religiosa do jihad e, consequentemente, de seu apelo,
seja a ocidentais convertidos ao Islã ou muçulmanos criados em contextos
ocidentais. As pessoas são muito mais que vítimas das influências socioeconômicas
ao seu redor.
Os seres humanos foram criados conscientes da justiça, ainda
que não tenham autonomia para defini-la por si mesmos.[5]
Acontece que a sociedade materialista e relativista que a civilização ocidental
tem gestado nas últimas décadas simplesmente renega e ignora essa realidade transcendente
da existência e da ética. Enquanto ficamos horrorizados com o discurso
extremista que afirma saber a diferença entre o bem e mal, que alega poder
traçar a linha divisória entre fiéis e infiéis, que declara ter a voz de Deus (exclusivamente)
do seu lado – enfim, com o absolutismo islâmico – jovens do mundo todo ficam
encantados com uma visão de mundo que promete a segurança e sentido que não
encontram no secularismo que os cerca.
O pior é que, como sociedade pós-cristã, não temos nada para
oferecer a estes jovens vazios que os faça sequer hesitarem antes de seguir um
assassino insano que proclame certezas “preto no branco” neste mundo pós-moderno
onde a única certeza é a dúvida e a única convicção é o pensamento
politicamente correto – especialmente porque aqueles que sustentam a autoridade
bíblica são vedados da participação social, enquanto que largas porções do
Cristianismo apenas reproduzem o espírito da época.
Infelizmente, para uma sociedade surda ao evangelho, resta apenas
ficar espantada e confusa diante da perda de seus jovens para seus inimigos
declarados. E, claro, combater fogo com fogo, provavelmente cometendo atrocidades
e injustiças muito parecidas com as que sofre agora, e fomentado ainda mais
extremismo violento.
Retomo o tema noutro post.
[1] Jihad é o dever religioso dos muçulmanos
de defender o Islã, seja pela doutrinação e exemplo de vida, ou pela espada, isto
é, guerra e terrorismo.
[2]
Obviamente, a primeira pergunta a ser feita é: “O que leva uma pessoa a se
envolver na morte de outras pessoas?” ou, pelo menos, “O que leva um religioso
a usar sua crença para justificar o assassinato?”. Mas este post pretende focar
num aspecto particular do jihadismo.
[3] Já
foram detectadas tentativas pelo Estado Islâmico de cooptar de jovens brasileiros
para sua causa.
[4] Sharia é o conjunto de regras religiosas
constantes do Alcorão (revelação de Alá recebida por Maomé) e das Sunas (relatos
posteriores da vida e ensinos de Maomé), particularmente quando tomados como
lei civil ou seu fundamento, como requerem os movimentos radicais islâmicos.
[5] Essa
consciência moral inata está claramente presente desde a criação do primeiro ser
humano, que recebe um mandamento, se envergonha por tê-lo quebrado e é
responsabilizado por suas escolhas (Gênesis 2.16-17 e 3.9-10 e 17-19). O
apóstolo Paulo fala de uma norma moral “gravada no coração” de todos, que se
expressa na consciência individual; por outro lado, ele também reconhece o
papel da influência social na conduta moral dos indivíduos e a capacidade
humana de insensibilizar a própria consciência. Compare Romanos 1.32 e 2.14-15;
também 1Timóteo 4.2.
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