domingo, 18 de outubro de 2015

A pornografia faz mais uma vítima

A revista masculina norte-americana Playboy anunciou que vai parar de publicar fotos de mulheres nuas.[1] Contudo, seria muita ingenuidade imaginar que a mudança tenha sido motivada pelo reconhecimento de que a pornografia seja errada ou prejudicial. A decisão não é moral, mas financeira: das 6 milhões de cópias que vendia nos EUA na década de 70, não vende mais que 800 mil atualmente.

A primeira edição de Playboy seria
considerada recatada em nossos dias
A revista foi criada por Hugh Hefner em 1953 com uma proposta ousada. Já havia revistas que publicavam fotos de mulheres nuas, mas Hefner pretendia oferecer mais. Seu público não era o sujeito insocial, solitário e incapaz de se encontrar com uma garota de verdade; pelo contrário, era um suposto novo homem, sofisticado demais para se prender aos grilhões da moralidade tradicional, pautada no compromisso do casamento heterossexual.

A revista de Hefner conseguiu convencer a sociedade ocidental de que ser homem de verdade é viver de maneira irresponsável, promíscua e egoísta. E que a exploração sexual da imagem de uma mulher não tem nada a ver com moral, com certo e errado.
Obviamente, Hefner não inventou a imoralidade sexual nem foi o primeiro a explorar a nudez feminina. Mas contribuiu muito para despir o sexo e a mulher de seu significado e dignidade. Em nossos dias, moças fazem “ensaios sensuais” como parte de sua busca do estrelato e contam com a aprovação da sociedade e até de seu pai. Novamente, a questão moral sequer é levada em conta, apenas a financeira: “Pagando bem, que mal tem?”

Na verdade, apesar das entrevistas com grandes personalidades, dos contos de escritores importantes, das charges políticas e das mulheres com jeito de vizinha sexy (e não de prostituta),[2] a Playboy jamais conseguiu trazer à existência esse “homem sofisticado”. Contribuiu, isso sim, para a adolescentização dos homens de toda a geração baby-boom, X e Y ao promover uma visão do sexo egocêntrica e descompromissada. E para a desumanização da mulher aos olhos desses homens.

A Playboy e suas congêneres representam a antiga distorção do “sexo-como-amor” em “sexo-como-dominação”.[3] Afinal, sexo de verdade é aquela união que ocorre entre um homem e uma mulher num contexto de compromisso e entrega integral, ao ponto de serem considerados “uma só carne”. O sexo que usa o outro como objeto, como instrumento para o prazer próprio, é uma adulteração da sexualidade com que o Criador dotou o ser humano. Simplesmente não tem o direito de ser chamado "sexo".

A indústria pornográfica estrategicamente insere essa deturpação justamente nos anos em que a virilidade está aflorando nos meninos. Em geral, adolescentes e homens que consomem pornografia (na maioria absoluta das vezes para masturbação) se tornam desinteressados e insatisfeitos com o sexo real ou natural (como demonstra esse estudo), impacientes com as necessidades, inconveniências e limites das mulheres de verdade e se lançam em busca de algo mais excitante, seja sujeitando suas parceiras a situações desonrosas na cama, seja buscando prazer com outras mulheres (ou homens, ou animais, ou qualquer tipo de tara).[4] Ou ainda na própria pornografia – e esta, cada vez mais bizarra para acender uma excitação cada vez mais fugidiça.

Essa dinâmica, que já acabou com tantos relacionamentos, também foi o responsável pela desistência da Playboy de publicar nus. Apesar de o público da pornografia ser hoje maior que nunca, não há interesse por mulheres apenas nuas e insinuantes. Engolida pelos milhões de sites pornográficos que oferecem gratuitamente todos os tipos de atos sexuais imagináveis a um clique de distância, a revista de Hefner foi vítima da revolução moral que ele ajudou a por em movimento. Uma prova de como a corrupção do pecado vai se manifestando em níveis mais profundos, até perverter e desfigurar quase completamente a imagem de Deus na humanidade.[5]
O milionário Hefner, 89, ao lado da "esposa" Crystal, 29,
ambos miseravelmente fingindo ser um casal feliz

Hefner não poderia prever (e provavelmente não se importaria) a triste ironia de que a revista que pretendia alçar o sexo ao topo da existência feliz acabou por diminuí-lo e rebaixá-lo a uma das atividades humanas mais mesquinhas e insatisfatórias. Também é tristemente irônico que o anúncio de que a Playboy não mais publicará fotos de mulheres nuas está longe de ser a boa notícia para a sociedade que parece ser a princípio.



[1] A direção da Playboy no Brasil afirmou ainda não saber se seguirá a mudança.
[2] Com o tempo, a concorrência levou a Playboy e congêneres a fotos cada vez mais explícitas (a chamada “Guerra Púbica” no final da década de 60), perdendo muito dessa característica inicial. A Wikipedia traz a história completa.
[3] O “sexo-como-dominação” é sempre expressão daquela corrupção do relacionamento matrimonial que surgiu entre Adão e Eva logo após a queda, conforme a predição do próprio Criador (veja Gênesis 3.16). É sempre bom lembrar que, mesmo antes do pecado, o primeiro casal já havia sido criado com o propósito de se relacionar sexualmente e povoar a Terra (cf. Gênesis 1.27). Sexo não é pecado, mas pode ser corrompido por ele.
[4] Há uma extensa lista de desvios na atração sexual, e se pode encontrar vídeos pornográficos para cada uma delas.
[5] Veja em Romanos 1.18-32 como o apóstolo Paulo descreve essa espiral descendente que arrasta uma sociedade que rejeita a ordenação do Criador para cada vez mais longe da verdade, justiça e bem.

2 comentários:

  1. Cheguei ao seu blog pelo post no blog do Felipe Melo, aonde cheguei por um artigo do Reinaldo Azevedo... Estamos em casa, hehehe!
    Achei ótimo entender o que se passou de verdade, obrigada pela análise. Irei te acompanhar!
    Abs!
    Cinthia

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    1. Seja bem-vinda, Cinthia.
      Você está muito bem assessorada com esses blogs! rsrsrsrr
      Espero poder contribuir com outros assuntos que interessem a você. Abração!

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